quinta-feira, 26 de novembro de 2009

ENTREVISTA COM UM ESTUDANTE SURDO NUMA ESCOLA INCLUSIVA

Entrevistado: Glaysson José Pinheiro Rego

Entrevistadora: Maria Salete da Silva Cardozo, aluna do curso de Especialização Tecnologias em Educação.

Intérprete da entrevista: Elizanildo Lima, professor da sala de recursos do Colégio Estadual Barão do Rio Branco.


DADOS DE IDENTIFICAÇÃO DO ALUNO

Nome : Glaysson José Pinheiro Rego

Idade: 21 anos

Cidade: Rio Branco

Estado: Acre

Formação: Cursando o 3º ano do ensino Médio

Local de estudo: Colégio Estadual Barão de Rio Branco

Contatos: beauty67@hotmail.com

SALETE: sua surdez é congênita ou adquirida?

GLAYSSON: minha surdez adquiri aos 6 anos de idade


SALETE: Como foi a descoberta sobre sua surdez e o primeiro contato com a língua de sinais?

GLAYSSON: Como disse, fiquei surdo aos 6 anos de idade, mas não tenho conhecimento da causa da surdez, e o primeiro contato com a língua de sinais tive aos 6 anos de idade quando comecei a freqüentar a escola e em contato com meus amigos, mas passei muito tempo para aprender a me comunicar.

Com o passar dos tempos fui me interessando mais pela linguagem de sinais e fiz um curso com duração de 7 meses, em libras e foi onde adquiri mais conhecimentos.


SALETE: Conte um pouco como foi sua infância, adolescência e juventude.

GLAYSSON: Minha infância e adolescência não foi diferente dos outros garotos. Sempre gostei muito de jogar bola, de passear, de MSN, de baladas, shows, carnaval, de paquerar e namorar, mas de estudar também. Nunca vi a minha surdez como entrave para deixar de fazer o que eu gosto de fazer.


SALETE: Você estudou em que escola(s)?

GLAYSSON: Da 1ª até 6ª série estudei numa escola particular e lá nunca tive intérprete em sala de aula.

Da 7ª em diante estudei em escolas públicas e foi onde passei a ter maior apoio em sala de aula em relação a ter um intérprete para que facilitasse a minha comunicação com os meus professores e assim facilitando mais em minha aprendizagem.


SALETE: Você já estudou em escolas em especiais para surdos?

GLASSON: Não. Meus pais sempre fizeram questão de me matricular em escolas regulares.


SALETE: Mesmo você não tendo estudado numa escola especializada, você saberia me dizer as vantagens e desvantagens de estudar numa escola especializada e numa escola normal?

GLEYSSON: Em relação a escola regular, a vantagem é de poder estar em contato com pessoas que não são surdas, pois aprendemos muito com essa convivência, e a desvantagem é a dificuldade que temos na aprendizagem, pois algumas escolas ainda não tem intérpretes para nos acompanhar e assim dificulta em nossa aprendizagem.

Hoje já não tenho mais essa dificuldade, pois tenho uma intérprete em minha sala para ajudar na comunicação entre professor e aluno.

Já nas escolas especializadas, os alunos sempre têm acompanhamento de um professor que se comunica em libras. É um ambiente especializado, onde se tem um contato lingüístico apropriado. A maior dificuldade dos surdos é o português e nas escolas especializadas essa dificuldade pode ser superada, pois se estuda o português através da língua de sinais. Como eu disse, na escola especializada há sempre a presença de um intérprete e isso ajuda a aumentar as informações para uma melhor construção do conhecimento do aluno.


SALETE: Desde quando usa a Libras?

GLEYSSON: Desde os 8 anos de idade


SALETE: Quais as maiores dificuldades que você teve durante sua trajetória de estudante, sofreu preconceito por ser surdo?

GLEYSSON: Minha maior dificuldade como estudante foi a língua portuguesa, exatamente por não estudar português através da língua de sinais. Tenho ainda muita dificuldade de entender as palavras. E a outra dificuldade como já citei foi a falta de um intérprete para acompanhar na escola e principalmente em sala de aula.

Preconceito e já tive sim. Algumas pessoas não respeitam os surdos. Elas vêm que somos surdos e continuam falando como se escutássemos. Já com os colegas de sala de aula nuca passei por esse tipo de situação, muito pelo contrário, meus colegas procuram sempre se aproximar de mim para aprenderem a linguagem de sinais, e acabam ajudando muito.


SALETE: Você tem filhos? Se tem, como se comunica com eles? E com a sua família, todos se comunicam através da linguagem brasileira de sinais? E com os amigos que não são surdos, e pessoas ao seu redor, como é a comunicação?

GLEYSSON: Não tenho filhos. A comunicação na minha família é através de gestos e língua de sinais. Meu pai sabe um pouco, mas a minha irmã já domina libras e por isso ela serve de intérprete na minha família. E com meus colegas que não são surdos e que não sabem a linguagem de sinais procuro me comunicar com gestos ou através de uma outra pessoa que não é surda fazendo a interpretação. Também uso a comunicação escrita, tanto em casa como na escola e outros lugares.


SALETE: O que a Libras significa para você?

GLEYSSON: A linguagem em libras faz parte da comunicação de um surdo, ela é essencial para que possamos nos comunicar com o mundo, principalmente para aqueles que não escrevem. Por isso, para mim ela significa uma maneira mais fácil de poder se comunicar com outras pessoas.


SALETE: Que tecnologias você utiliza no seu dia-a-dia? E como você vê esse avanço tecnológico do mundo hoje? Esse avanço facilitou a sua vida?

GLEYSSON: Uso muito o celular para me comunicar através de mensagens como meus amigos, familiares e pessoas em geral. Utilizo o computador para pesquisas, realizar trabalhos escolares, orkut, MSN.

Esse avanço tecnológico tornou mais fácil a comunicação entre as pessoas, sejam elas com ou sem deficiência. As informações chegam mais rápido até nós, aumentando nossos conhecimentos. Até cursos podemos fazer hoje através de acesso a Internet. Por tudo isso, facilitou muito a minha vida.


SALETE: Você tem planos para o futuro? Quais?

GLEYSON: Sim. Quero fazer faculdade e ser engenheiro civil e construir uma família.


SALETE: Qual sua diversão preferida?

GLEYSSON: Gosto de estar no futebol com meus amigos. Gosto de shows e de baladas.


SALETE: Você é uma pessoa feliz? Por quê?

GLEYSSON: Sim, sou uma pessoa muito feliz, pois tenho muitos amigos e uma família maravilhosa que está sempre me apoiando nos momentos difíceis.


SALETE: Por favor, deixe uma mensagem para os leitores do Blog Mundo do Silêncio.

GLEYSSON: Sou uma pessoa que gosta de fazer amizades, tenho 21 anos e quero aproveitar este blog para dizer que podem se comunicar comigo através do meu e-mail para amizade e poder trocar conhecimentos.





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